sexta-feira, 30 de julho de 2010

A vidente.

Sentei de frente para ela, que me observou com um ar de que poderia descobrir tudo da minha vida, em alguns minutos. A mesa tinha várias bugingangas, das quais uma era uma bola de cristal. Minha amiga soluçava de gargalhadas bem na sala ao lado e eu estava me controlando para não fazer o mesmo.
Até que Madame Sophia disse:
- Porque você veio aqui se acha isso tudo tão engraçado Maria Letícia? - E levantou uma das suas sobrancelhas pintadas com lápis de olho preto.
- Como a senhora sabe meu nome?
- Você prencheu uma ficha antes de entrar na sala esqueceu? - Ainda bem que ela respondeu isso, porque eu estava começando a acreditar que ela poderia adivinhar as coisas de verdade.
- Bom, eu e minha amiga, bom... estavamos conversando sobre o assunto e pensamos "porque não"? então, como não tinhamos nada a perder mesmo, aqui estamos.
- E o que você deseja saber?
- Bom madame, não vim aqui saber se vou casar ou se vou ter filhos, não vim aqui saber se meu namorado me ama ou se minhas amigas são falsas comigo, não vim aqui saber se vou passar o resto da minha vida sofrendo, queria apenas saber se vou sorrir hoje, quando sair daqui, mas não apenas por sorrir, queria sorrir de verdade, do fundo da alma sabe? não me importa o que vai acontecer no meu futuro porque se eu souber vai perder toda a mágica dos momentos, se todos soubessem o que vai acontecer daqui a dez anos a vida não teria nenhuma lógica. Por isso que acho que, não querendo lhe ofender, mas acho tolos os que vem aqui perguntar quando ela vai casar ou quando ele vai comprar um carro.
- Bom menina, não se preocupe, você não me ofendeu. Adoro quando pessoas como você chegam aqui. Você não é impulsiva, você pensa antes de fazer e por isso se depara sempre com os dois lados da moeda. Qualquer um poderia pegar o lado "cara" e ir entregar a todo mundo, você não! Pensa se o lado "coroa" também lhe seria útil, se você não iria se arrepender de usar um e não o outro e mais, você não procura dá essa moeda a todos, você tem receio de entregar a qualquer pessoa. - Pensei um pouco e vi que era exatamente assim que eu era e pedi para ela continuar. - Provavelmente alguém especial já te disse isso, que você deveria parar de ter dúvidas porque isso atrapalha tudo na sua vida certo?
- É, me disseram isso e nem faz muito tempo.
- Pois bem. Essas dúvidas que te rodeiam muitas delas não tem respostas e outras tantas tem resposta mas você tem que assinalar entre A,B,C,D e E. Mas sabe Letícia? Não se preocupe tanto com elas. Não fique se martirizando porque não consegue responder, não sofra com isso. Pule a questão! deixe para o final. Talvez você nem precise dela, mas se precisar muito dela responda no últimos minutos que você vai ter que fazer uma escolha rápida e precisa. Não machuque a si mesma. E quer saber? quando você sair daqui hoje, você não vai dá um sorriso desse que você quer tanto dá, alias nem um sorriso só de boca você vai dá hoje.
- Ah Madame, era o que eu precisava saber e ouvir. Muito obrigado, não me arrependi de ter vindo aqui, em nenhum segundo. Aliás, o que era brincadeira se tornou algo a mais.
Realmente, não sorri no final do dia. Apenas pensei um pouco naquelas palavras. "Pular a questão e deixar para o final", isso seria o ideal. Eu deveria parar de machucar a mim mesma e colocar essas dúvidas de lado. Mas a questão é: quando não sou eu que me machuco, as pessoas tendem a fazer isso a mim. A me ferirem, logo eu a tão boba letícia que sozinha, chora por uma critica. Logo eu que sozinha, sofro com as mais bobas criticas que me dirigem. E por mais que eu diga "as criticas não me abalam, me fortalecem" estou apenas enganando a mim mesma, porque elas não só me abalam como me derrubam. Sou assim, frágil e indefessa e as coisas que mais me magoam são as menores mas que vem das pessoas que eu gosto.
Enfim, eu nunca acreditei em videntes e acho que nunca vou acreditar. Mas uma coisa é certa, aprendi uma coisa hoje, melhor eu chorar por pessoas que me magoaram do que chorar por eu ter magoado a mim mesma, porque tenho medo de mais de ficar aqui nesse mundo de loucos sozinha.

ML

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